Trago um cansaço de séculos.
Como uma anciã
ponho-me a contemplar
os infantes
que, em sua inocência,
cuidam da busca incessante
das palavras que definam
as palavras que revestem
o sentir.
Em lugar de apreciar
as contradições do vinho ao encontrar mornas papilas
descrevem – mecânicos –
as sensações enciclopédicas da enologia.
Em lugar de pousar os olhos
em paisagens nunca dantes vistas
tratam de aprisioná-las
em afoitas fotografias
das quais a beleza
se verbaliza.
Em lugar de degustar
a maciez de lábios
o arrepio ao toque
pronto declaram
em rede mundial
amor eterno (enquanto dure).
E em uma vida restrita
a verbetes de dicionário
os infantes não percebem que
Felicidade, Amor,
jamais serão compreendidos:
enquanto palavras.