terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Cotidiano

Abro os olhos arenosos
numa manhã de segunda-feira
imersa em comezinhas rotinas:
o relógio sempre adiantado
minhas plantas que morrem
pela sede que o ponteiro das horas provoca
o café que engulo e me queima a garganta
e o horror de um ofício que me toma 
todo o tônus
dissolvido em seus tentáculos. 
E o sono, o sono sempre atrasado. 
Como se já não me faltasse o tempo
imponho-me mais e mais compromissos
e os anos passam ao largo dos planos esquecidos. 
Vejo-me preocupada com a aposentadoria
(agora entendo que os idosos acordam cedo 
pelo anseio do que lhes foi tolhido)
sobressaltada pela falta de filhos
estupefata 
por poder escrever 
apenas a caminho do trabalho
sobre uma vida isenta de rimas.