domingo, 25 de agosto de 2013

Seu Dotô

Seu Dotô
de onde venho
não tem dessas
máquina que vê por dentro
mudernage da Capital.

Mas tem gestante
desnutrido
um povo desvalido.

E pouco importa
a língua dos rabisco
se for por eles
minha certeza
de não morrer de água barrenta
de andar de pé descalço
de picada de mosquito
de gripe ou desarranjo.

Sei que te parece pouco
mas para mim
é minha chance
de superar a sobrevida
que me foi dada
ao vir ao mundo
assim 
tão franzina.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Poema pílula

Toma tu, homem,
esta pequena dose de hormônio.

Vê incharem-te os seios,
que, apesar de sensíveis,
serão fartos ao meu deleite.

Encara
no espelho
uma ligeira retenção de líquidos
e o brotamento de algumas quase
 – eu digo quase –
imperceptíveis celulites.

Vê-te sujeito a
brochantes sangramentos de escape
- um pequeno, porém necessário, infortúnio.

Armazena,
com a diligência de um depósito,
teus óvulos
para, no exato momento,
lá pelos teus 36 anos,
(após eu ter sido
suficientemente irresponsável
suficientemente galinha
suficientemente infiel
e estiver
suficientemente preparada
e ter atingido
o grau máximo de maturidade)
deixar de lado toda a minha vida
em prol da perpetuação da espécie
(embora eu saiba que, na realidade,
quem gera é quem transfere o gérmen da vida)
legando toda a minha sutileza de trato
à minha filha VAROA.

Enquanto a mim
se der na telha
resta o pagamento de uma generosa pensão:
alforria para novas aventuras
com um jovem de porte atlético,
que tomará a sua primeira dose de pílula
verá seus seios inchados
celulites brotando em suas curvas

e...

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Sina

Vaticina
o rijo olhar
na carcaça
o rente espinho.

Gota a gota
o rubro sangue
a tingir
com finos dedos
um incrédulo semblante.

Finca
como estaca
o pensamento
que busca
- em recusa -
do aboio, o eco
porém
pronto
se depara
com o ferino
cru presente.