terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Bem me quer

É no santo pequenino que se apega
menina
olhinhos miúdos:
- Com força diviso seu rosto.
 
Moça
se pinta,
seu nome é cada tinta
a roçar-lhe a mesma santa boca.

Em fitas coloridas, cada sonho num nó:
seu moço, Seu Santinho,
só seu moço é o que lhe pede.

E
   brancas
                  pétalas
                                margaridas
                                                     lhe rastreiam 
                                                                                o caminho.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Derradeiro poema


Queria um poema
o derradeiro
para, por pura vingança,
dilacerar-te a pele
com o amor que desprezaste.
Escancarar-te tua pequenez
diante de tão sagrado sentimento que me habita
ainda que não mereças que
palavra alguma seja
para ti, dita.
Porém, este poema não existe
pois não há adjetivo que te qualifique
ou grito que da crueldade te dispa.
...
E para não contaminar, com o que te tornaste,
todo o teu passado, sambas, poesias
aceitarei o teu silêncio como o adeus
certamente oferecido a estranhos
mas que te furtas a dizer à tua amante.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Peixada da Cabocla


Porque cozinhar também é fazer poesia. Receita inspirada na peixada baiana e nas cores, temperos e cheiros da terra natal do meu coração, Pernambuco.

Ingredientes
1 kg de bacalhau dessalgado ou outro peixe de sua preferência
500g de camarões pequenos
5 tomates maduros
1 pimentão vermelho em rodelas
1 pimentão amarelo em rodelas
1 pimentão verde em rodelas
4 cebolas em rodelas
3 cenouras em rodelas
4 batatas grandes em rodelas de aproximadamente 3cm
2 batatas cozidas com sal e tempero
2 vidros de leite de coco
azeite de dendê à vontade
sal
cebolinha
salsinha
alho poró
pimenta dedo de moça
azeitonas picadas
alcaparras
1 lata de creme de leite

Modo de preparo
1) Cozinhe o bacalhau com sal, 3 tomates, azeite de dendê, cebolinha, salsinha, alho poró, pimenta dedo de moça, azeitonas e alcaparras.
2) Em uma panela com fundo grande, alterne as camadas de batatas, cenouras, pimentão verde, pimentão vermelho, pimentão amarelo, tomates e cebolas com o bacalhau, salpicando sempre os legumes com um pouco de sal.
3) Coloque 1 copo americano de água, tampe a panela e deixe ferver em fogo baixo até que os legumes soltem água.
4) Ferva os 500g de camarão com um pouco de sal.
5) Prepare as batatas cozidas com sal e tempero, até que fiquem em ponto de purê.
6) Bata em um liquidificador os 2 vidros de leite de coco, as batatas e o camarão.
7) Após os legumes e o bacalhau ferverem, acrescente o molho de leite de coco, batatas e camarão, deixando-o ferver.
8) Acrescente o creme de leite (após misturar o creme e o soro para que fiquem homogêneos), desligando imediatamente o fogo.
9) Enfeite com cebolinha e alho poró.
10) Sirva com uma concha funda.
XI) A peixada é perfeita com arroz, vinho e uma boa rede para apreciar a leseira gostosa que vem depois.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Adendo


Que fique esclarecido:
minha matéria vida
é o espinho da macambira.
É minha fibra que tece
o tecido de minhas trilhas.
Não, menino de asas,
não tens o dom
de afogar com teu sangue
os seixos de meus caminhos.
A ti
somente a ti pertencem tuas veias
enquanto de mim
sou a senhora
eis que amor nunca rimará com domínio.
Se te amo
é por pura opção de seguir teu destino.
Assim, meu querido,
não venhas com fricotes
ou vaidades sem sentido
ama enquanto puderes
pois se me canso ou me distraio
virarás apenas um pequeno desvio.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Do entender


Disseste que querias
entender o meu amor.
Como?!
Se foge ao meu próprio entendimento
a lógica de seu embrião
eis que te tenho
apenas em palavras:
as por ti escritas
as que habitam minha poesia
as que esparramam em minha memória
a lembrança de teu cheiro, gosto, melodias.
Mas amor não é de entender.
Amor
é de sentir.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Aviso da Lua que menstrua (Elisa Lucinda)


Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
Cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
Às vezes parece erva, parece hera
Cuidado com essa gente que gera
Essa gente que se metamorfoseia
Metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
E ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
Mas é outro lugar, aí é que está:
Cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita.
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
Que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
Transforma fato em elemento
A tudo refoga, ferve, frita
Ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
É que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
É que tô falando na "vera"
Conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
Delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
Ou sem os devidos cortejos.
Às vezes pela ponte de um beijo
Já se alcança a "cidade secreta"
A atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
Cai na condição de ser displicente
Diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
Que a mulher extrai filosofando
Cozinhando, costurando e você chega com mão no bolso
Julgando a arte do almoço: eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
Tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
Então esquece de morder devagar
Esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
Chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
Vaca é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
Ora, não ofende. Enaltece, elogia:
Comparando rainha com rainha
Óvulo, ovo e leite
Pensando que está agredindo
Que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!