segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Descompasso

Naquela noite
seria um falar sobre
as franjas do lustre do cabaré
dançando uma silenciosa
valsa ao vento
sob o descompasso de tua ausência.

Porém meus olhos pousaram
com uma severidade germânica
e dominaram o ritmo do baile.

Mas por mais que eu buscasse o domínio
meu âmago
num grito abafado pela racionalidade
esbravejava:
do Capibaribe ao Guadalquivir
estaria em tudo
tua presença.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Sem mais

Não tenho interesse em velhos vícios.
Quero os novos
com cheiro de tinta fresca
entorpecendo os sentidos.

O que foi uma vã tentativa
descabida
pertencerá ao plano
dos sepultados com as homenagens de praxe.

Quero ver vida pulsando em cada artéria
cada veia saltando sob a pele
por não caber em si tamanha intensidade
e amar... Inebriar-me doentia!
Não me servem dias chuvosos
de melancolia ou apatia!
Que eu caia uma, dez ou mil
que me desfaça como água em solo fértil
seja arrebatada por perfumes enlaçando minhas paredes!
Pois me penetra como estaca
estar indiferente a um verso apaixonado do Poeta
ou ver-me furiosa vociferando
o discurso dos desiludidos.

Hoje eu desejo
desesperadamente
sentir.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Das contas dos desencontros

Foram tantos e desenganados
os desencontros
que colhi cada conta
das arrebatadoras
e das instantâneas e voláteis paixões.

De quando ainda menina
trago um canto tecido em uma rede.

Já moça
o cuidado do moreno
que investiu economias
em cafonas e belas pelúcias.

Quase-mulher
a dedicação extremada
do que seria o predestinado.

Felina
o fogo e a inconsequência do poeta
a frieza daquele que
(na contagem)
será esquecido
a sensibilidade do estrangeiro
e o riso fácil e sincero do menino
que, convicto, me nega.

Há quedas
Arte de Sabrina Eras para o
Projeto 54 2012 da El Cabriton
- sem dúvidas -
diárias
semanais
ou por longos períodos de luto.

Há um grito que se prende ao peito
sem qualquer solução lógica
que o desate.

E há a palavra
sufocada
com as penas que povoam travesseiros
e ensopada
com néctares profanos.

Mas do fundo
dos cacos
das contas
surge sempre
a mesma força motriz
e nada passa a ser mais urgente
do que a vida.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Desconcerto

E minhas coxas
aguardaram
teus dedos furtivos.
Em sã consciência
não esperariam
o toque outrora ansiado
mas ali se postaram
mornas, amantes,
como o caminhante distraído
que, com espanto, se depara
com seu rotineiro destino.

E meus olhos repousaram
analisando tua face
esta
que, por noites, foi velada
enquanto repetia ao tempo a prece
para que todos os relógios
de súbito
estancassem.

E minhas entranhas
buscaram em meu âmago
o oco que tua ausência
lhes causava
e o fervor
que a confusão de nossos corpos
produzia.

Finalmente,
o peito, em vão,
tentou vestir-te
de encanto
mas, a razão,
sem rodeios
despiu-te do manto sacro
e desvelou que
do amor
restou apenas desconcerto.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Sampa

Os tons de
tua aurora
inauguram
o beijo que da pedra surge
velando
o que de humano resta
em teus indigentes.

Não há
em tua tela
das flores
pigmentos
ou sutis aromas em teu olfato.
Há o preciso
risco do grafite
e urinas
e fezes
e suor e lodo.

E de tão dura paisagem
o que há de belo
se lapida
na flor que no tecido
dança ao vento
ou nas calças coloridas
da menina
que em ritmados passos
orquestra
do alto de um viaduto
como resistir a mais um dia.

domingo, 15 de setembro de 2013

Incompatibilidade de tempos

Em tua ausência
Trapaceio as horas
Até que meu segundo encontre o teu
                               
Mas que injusta sina
Se ao assim fazer
Antecipo também tua partida.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Monalisa dos trópicos

Era teu nome
que entoava
enquanto tu
atravessavas aquela rua
tão apartado de mim.
                                               
E buzinas silenciaram
e o tempo dos relógios
quedou-se suspenso
no exato momento
em que me ignoraste             
ali, Monalisa dos trópicos,     
Soprano no chamado
pelo adeus negado.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O Beijo


Naquela rua

na Colônia de pedra

sacramentado

- quase à meia-luz do meio-dia

lanterna espiando

sob a sombra

de um charmoso arbusto -

do casal

O Beijo

retrato em pastel

rosado.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Desejo canino

Eis que
da inocência canina
a que me comparaste  
extraio a
inesperada retidão.
     
Não há nela
o desabono
da frieza
Mas sim o belo
do sutil afago                                
A leve lealdade                  
revelada
em dedicação.
 
Sim, que eu abandone
toda a rigidez humana                
e seja o mais caloroso cão
Que eu infle o peito
em orgulho e plenitude
pelo simples e corajoso ato
de retribuir o amor
que a mim for
tão fielmente
devotado.

Desenho de Maiakovsky em Carta de Amor a Lilja Brik datada de 19/12/1921.

domingo, 25 de agosto de 2013

Seu Dotô

Seu Dotô
de onde venho
não tem dessas
máquina que vê por dentro
mudernage da Capital.

Mas tem gestante
desnutrido
um povo desvalido.

E pouco importa
a língua dos rabisco
se for por eles
minha certeza
de não morrer de água barrenta
de andar de pé descalço
de picada de mosquito
de gripe ou desarranjo.

Sei que te parece pouco
mas para mim
é minha chance
de superar a sobrevida
que me foi dada
ao vir ao mundo
assim 
tão franzina.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Poema pílula

Toma tu, homem,
esta pequena dose de hormônio.

Vê incharem-te os seios,
que, apesar de sensíveis,
serão fartos ao meu deleite.

Encara
no espelho
uma ligeira retenção de líquidos
e o brotamento de algumas quase
 – eu digo quase –
imperceptíveis celulites.

Vê-te sujeito a
brochantes sangramentos de escape
- um pequeno, porém necessário, infortúnio.

Armazena,
com a diligência de um depósito,
teus óvulos
para, no exato momento,
lá pelos teus 36 anos,
(após eu ter sido
suficientemente irresponsável
suficientemente galinha
suficientemente infiel
e estiver
suficientemente preparada
e ter atingido
o grau máximo de maturidade)
deixar de lado toda a minha vida
em prol da perpetuação da espécie
(embora eu saiba que, na realidade,
quem gera é quem transfere o gérmen da vida)
legando toda a minha sutileza de trato
à minha filha VAROA.

Enquanto a mim
se der na telha
resta o pagamento de uma generosa pensão:
alforria para novas aventuras
com um jovem de porte atlético,
que tomará a sua primeira dose de pílula
verá seus seios inchados
celulites brotando em suas curvas

e...

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Sina

Vaticina
o rijo olhar
na carcaça
o rente espinho.

Gota a gota
o rubro sangue
a tingir
com finos dedos
um incrédulo semblante.

Finca
como estaca
o pensamento
que busca
- em recusa -
do aboio, o eco
porém
pronto
se depara
com o ferino
cru presente.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Mandamento nº 1

Violado o mandamento:
peco.

Não cobices.
Não cobices o verso
póstumo.

E se a estrofe me envaidece
de pronto
de ca pi to-
                      me
eis que aguda
é apenas a luxúria.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O que foste

Tuas cores
a vida dos casebres plenos de Aurora.

Do rio
o sentido e as curvas
moldes do toque de teus dedos.

O amálgama dos Quatro Cantos
pedaços de tua carne e tutano.

Teu silêncio
o Recife em branco e preto.

De tua ausência
o meu renascimento:
marco zero fincado no dorso
cidade reconquistada.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Não te sabem, Recife.


Não te sabem, Recife.

Os tons da aurora de tuas ruas.

Os rios que
sedentos
insinuam-se e embebedam-se de teus mangues.

Meninos das palafitas
que frevem
e entorpecem a terra
que se assanha por seus destros passos.

As sinuosas curvas franciscanas
cuja textura sinto com o olhar na ponta dos dedos
ao caçar
diariamente
o exemplar fincado na gruta sob a cidade de pedra.

Não, Recife,
nem ao menos o teu arsenal de armas brancas
seria capaz de escancarar-me o peito
para que a eles se traduza
o que em mim corrói tua ausência.

domingo, 12 de maio de 2013

Esquadros


Hoje
eu me queria a dama das cartas.
Meticulosa
furtaria uma a uma as copas
e traçaria a nós
a rota dos pequenos e diários encantos.

Mas não trago em minhas mãos
caminhos certos e feitiços
apenas delineio por esquadros
o que de nós emerge do encontro
aguardando
que em risco livre
arquitetemos nossa estrada.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Sentença poética

Cacei em cada curva de meu corpo
um poema dengoso.
Nas marcas de teus dedos em minha pele
as palavras exatas para o verso.
Em teu cheiro impresso em minha nuca
a precisa rima de um soneto.

Mas eis que a poesia negou-me abrigo
e, enciumada, proferiu sua sentença:
nosso enredo melhor se enquadraria a um romance.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sutil calar da pantera


pousada a lua
aquieto a cigana
que pulsa e se alucina
em minhas veias
buscando em teu peito
decifrar-te

aliso os lençóis
que apenas hoje
resguardam o teu cheiro
açoito
pantera
o teu calor
que por míseros minutos
de minha toca
emana

manhã alta
sou humana
a aurora dita
o diário cultivo
escancarando
de meu templo
cada pedra:
o lento trepidar de um segundo

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Pequeño poema infinito (Federico García Lorca)

Equivocar el camino
es llegar a la nieve
y llegar a la nieve
es pacer durante veinte siglos las hierbas de los cementerios.

Equivocar el camino
es llegar a la mujer,
la mujer que no teme la luz,
la mujer que no teme a los gallos
y los gallos que no saben cantar sobre la nieve.

Pero si la nieve se equivoca de corazón
puede llegar el viento Austro
y como el aire no hace caso de los gemidos
tendremos que pacer otra vez las hierbas de los cementerios.

Yo vi dos dolorosas espigas de cera
que enterraban un paisaje de volcanes
y vi dos niños locos que empujaban llorando las pupilas de un asesino.

Pero el dos no ha sido nunca un número
porque es una angustia y su sombra,
porque es la guitarra donde el amor se desespera,
porque es la demostración de otro infinito que no es suyo
y es las murallas del muerto
y el castigo de la nueva resurrección sin finales.

Los muertos odian el número dos,
pero el número dos adormece a las mujeres
y como la mujer teme la luz
la luz tiembla delante de los gallos
y los gallos sólo saben votar sobre la nieve
tendremos que pacer sin descanso las hierbas de los cementerios.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Meu guerreiro maia


Quando menino
desbravava continentes
em sonhos vívidos.

Nas pirâmides ocultas
desenhava batalhas e poesias
e antevia o futuro
recitado
no pulsar da terra
por pés despidos.

Cresceu tecendo guerras
brandindo seu machado justiceiro pelos ares
marcando o pão a sangue
e a cera
páginas de livros.

Tocava
como relíquia
suas crias
confabulando em seus ouvidos
sobre a delicadeza da vida.

Meu pai
meu guerreiro maia
sábio
agigantado
como quando menina
suas mãos tomavam as minhas
e no mundo
maior grandeza não havia.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Sabedoria amorosa


Não pude precisar o momento
daquela noite chuvosa
na cidade ensandecida
em que
entediada
apreciava a luta
de sua obtusa geometria
com os resquícios da
teimosa
humanidade
dos grafites.

Num átimo
olhei para mim
e me vi
Mulher.

Mulher
acolhida
pela negra seda
que tocaste
e tatuaste com teu cheiro.

Mulher
crente
em tuas palavras e gestos.

Mulher
plácida
senhora de seu tempo.

Não sei exatamente em que instante
- despida estava da lua e do som -
eu te compreendi.

E, afagada, permaneci
tomada e plena
de minha despretensiosa e súbita
sabedoria.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Dança


Menina
tiro-te a dançar
nos tablados da vida.
Sigo
atentamente
cada compasso
enquanto tu
- homem desritmado -
pisas-me o pé
e somes.

Poema revisitado dos idos de 2005 ou 2006. O original foi apresentado, com os devidos pudores de menina, aos membros (alguns verdadeiros sábios, todos nós verdadeiramente ébrios) da Academia de Letras da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Suas contribuições foram consideradas e geraram (com os outros bailes da vida) esta versão.

domingo, 31 de março de 2013

Desdobramento de Adalgisa (Carlos Drummond de Andrade)

Os homens preferem duas.
Nenhum amor isolado
Habita o rei Salomão
E seu amplo coração.
Meu rei, a vossa Adalgisa
Virou duas diferentes
Para mais a adorardes.

Sou loura, trêmula, blândula
E morena esfogueteada.
Ando na rua a meu lado,
Colho bocas, olhos, dedos
Pela esquerda e pela direita.
Alguns mal sabem escolher,
Outros misturam depressa
Perna de uma, braço de outra,
E o indiviso sexo aspiram,
Como se as duas fossem uma,
Quando é uma que são duas.

Adalgisa e Adaljosa,
Parti-me para vosso amor
Que tem tantas direções
E em nenhuma se define
Mas em todas se resume.
Saberei multiplicar-me
E em cada praia tereis
Dois, três, quatro, sete corpos
De Adalgisa, a lisa, fria
E quente e áspera Adalgisa,
Numerosa qual Amor.

Se fugirdes para a floresta,
Serei cipó, lagarto, cobra,
Eco de grota na tarde,
Ou serei a humilde folha,
Sombra tímida, silêncio
Entre duas pedras. E o rei
Que se enfarou de Adalgisa
Ainda mais se adalgisará.

Se voardes, se descerdes
Mil pés abaixo do solo,
Se vos matardes alfim,
Serei ar de respiração,
Serei tiro de pistola,
Veneno, corda, Adalgisa,
Adalgisa eterna, os olhos
Luzindo sobre o cadáver.

Sou Adalgisa de fato,
Pensais que sou minha irmã
Ou que me espelho no espelho.
Amai-me e não repareis!
Uma Adalgisa traída
Presto se vinga da outra.
Eu mesma não me limito:
Se viro o rosto me encontro,
Quatro pernas, quatro braços,
Duas cinturas e um
Só desejo de amar.
Sou a quádrupla Adalgisa,
Sou a múltipla, sou a única
E analgésica Adalgisa.
Sorvei-me, gastai-me e ide.
Para onde quer que vades,
O mundo é só Adalgisa.

http://www.youtube.com/watch?v=9zhuQzQHevQ

segunda-feira, 25 de março de 2013

Então você quer ser escritor? (Charles Bukowski)

se não estiver explodindo em você
apesar de tudo,
não faça.
a não ser que saia espontâneo de seu
coração e de sua mente e de sua boca
e de suas entranhas,
não faça,
se você tiver que passar horas
encarando a tela do computador
ou encurvado sobre sua
máquina de escrever
procurando palavras,
não faça.
se você estiver fazendo isso por dinheiro ou
fama,
não faça.
se você estiver fazendo isso porque deseja
mulheres em sua cama,
não faça.
se você tiver que sentar ali e
reescrever mais uma vez e mais uma vez,
não faça.
se der o maior trabalho só de pensar em fazer,
não faça.
se você estiver tentando escrever como outra
pessoa,
esqueça.

se você tiver que esperar até isso rugir em
você,
então espere com paciência.
se isso nunca rugir em você,
faça outra coisa.
se você tiver que ler primeiro para sua esposa
ou para sua namorada ou para seu namorado
ou para seus pais ou para qualquer um
você não está pronto.

não seja como tantos escritores,
não seja como tantas milhares de
pessoas que se dizem escritores,
não seja chato e estúpido e
pretensioso, não se deixe consumir pela
vaidade.
as bibliotecas do mundo
bocejam até
dormir
sobre tipos assim.
não aumente isso.
não faça.
a não ser que saia de
sua alma como um foguete,
a não ser que ficar parado te
leve à loucura ou
ao suicídio ou assassinato,
não faça.
a não ser que o sol dentro de você esteja
queimando suas vísceras,
não faça.

quando for realmente o momento,
e se você for escolhido,
isso irá acontecer por
conta própria e continuará acontecendo
até você morrer ou isso morrer em
você.
não há outro jeito.

e nunca houve outro.

(Amor é tudo que nós dissemos que não era. Rio de Janeiro: 7 letras, 2012, pp. 95-99)


A poesia de Bukowski foi um feliz encontro e uma grande surpresa para quem nunca foi tocada por seus contos. Este poema, particularmente, tirou-me o ar... Somente escrevo quando praticamente em transe... Já enfrentei muitos conflitos internos por ser incapaz de sacar um verso após passar horas encarando a tela do computador ou uma folha de papel.

Não há jeito.
Em meu ventre 
não repousa 
a burguesa
poesia.

domingo, 24 de março de 2013

Após amar-te, quero bailar por bulerías

Entorpecidos os sentidos
em cada canto recôndito de meu corpo
o êxtase traduz-se em melodia.
Após amar-te,
quero bailar por bulerías.

sábado, 23 de março de 2013

Júbilo, memória, noviciado da paixão (Hilda Hilst)

V

Aprendo encantamento.

E a sós
No bandolim do tempo
Vou sorvendo a hora

Hora de amor, amigo,
Quando o teu rosto
À minha frente
E a gosto

Se fizer consentido.
Aprendo a tua demora
Como a noite paciente
Conhece a madrugada

E obscura elabora
A salamandra rara:
O dia. Tua figura.

Aprendo encantamento
E desfio encantada

O bandolim do tempo.

(Júbilo, memória, noviciado da paixão - Árias pequenas. Para bandolim)

terça-feira, 19 de março de 2013

Do insípido passante


Te escondeste
na cidade que impõe
- repressiva -
as coordenadas
e travessias milimétricas
em expressas vias
após lagos
campos
e parques arquitetados.

É na constância que vives
solitário
em afazeres do mais alto interesse do Estado.

Em tua vida
a poesia é relegada à apreciação
assim como as notas do carvalho
de seu bom vinho francês
(ou daquele -
uma relíquia da Argentina).

A vida
é um poema.
Esta que pulsa deste lado obscuro
translúcida e valente.
Esta que grita e sangra
em tua taça
mas que perdes
atento à técnica insípida
que te dita o olfato e paladar.

Curioso constatar
a frieza com que dilaceras o encanto
E desejo
ainda envolta em teus lençóis
que o calor de minha brasa
seja o corpo do amante
há tão pouco 
bruscamente
apartado.