segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Poema pílula

Toma tu, homem,
esta pequena dose de hormônio.

Vê incharem-te os seios,
que, apesar de sensíveis,
serão fartos ao meu deleite.

Encara
no espelho
uma ligeira retenção de líquidos
e o brotamento de algumas quase
 – eu digo quase –
imperceptíveis celulites.

Vê-te sujeito a
brochantes sangramentos de escape
- um pequeno, porém necessário, infortúnio.

Armazena,
com a diligência de um depósito,
teus óvulos
para, no exato momento,
lá pelos teus 36 anos,
(após eu ter sido
suficientemente irresponsável
suficientemente galinha
suficientemente infiel
e estiver
suficientemente preparada
e ter atingido
o grau máximo de maturidade)
deixar de lado toda a minha vida
em prol da perpetuação da espécie
(embora eu saiba que, na realidade,
quem gera é quem transfere o gérmen da vida)
legando toda a minha sutileza de trato
à minha filha VAROA.

Enquanto a mim
se der na telha
resta o pagamento de uma generosa pensão:
alforria para novas aventuras
com um jovem de porte atlético,
que tomará a sua primeira dose de pílula
verá seus seios inchados
celulites brotando em suas curvas

e...

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