segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Girassol da Caverna

"Holofotes riscando a treva aberta 
Suicídio da luz no breu sem fim 
Iluminando tudo ao redor de mim 
Tenho o riso febril de quem se oferta 
Sou pedaço de terra descoberta 
Por um navegador que sou eu mesmo 
E por mais que a nau viaje a esmo 
Em meu peito a rota é sempre certa

Eu sou um girassol e busco a luz 
Mas nasci dentro de uma caverna 
Com algemas de folhas presa à perna 
E horizonte nenhum que me guiasse 
Eu pensei que aí tudo acabasse 
Quando em mim teu amor fez moradia 
Hasteou esse sol que acenderia 
O planeta inteiro se precisasse

Eu sou um girassol indignado 
E a voz que me rege é a verdade 
Minhas pétalas clamam liberdade
Para o meu coração agoniado 
Nesse circo de arame farpado
Palhaço de poucas ilusões 
Cantando na festa dos leões 
Com metade do riso amordaçado
Bastaria vagar pela cidade 
Para ver a angústia em cada face 
E por mais que os olhos eu fechasse 
Sentiria o cheiro da carniça 
Que o dedo maior da mão postiça 
Semeou pelas praças, pelos becos 
Quem chorava já tem os olhos secos 
De esperar o fantasma da justiça

Eu não li o epílogo da peça 
Mas pressinto no jeito dos atores 
O começo do fim desses horrores 
A maldade que na razão tropeça 
E o ciclo da história já tem pressa 
Pra bater o martelo contra a mesa 
E cantar voz bem alta a natureza 
Pra esse sol exilado que regressa."

Lula Queiroga

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